sábado, 28 de agosto de 2010

Pés, passos, coração partido



Pés são pedaços de nosso corpo, ou seriam o corpo?

Seriam os pés, pedaços de mim, ou eu parte do que meus pés almejam descobrir?

Tiro dele os primeiros passos e sustento-me enquanto corpo, enquanto parte, enquanto todo.

Com eles e através deles, vivenciei experiências de novas terras, texturas e temperaturas.

A cada passada, um novo começo, um novo caminho e uma nova viagem.

Dos rastros, que deixam partes de mim por onde passei, enxergo memórias, sensações, amor que vêm à tona com uma beleza que não se vê, se sente.

Nos tropeços da vida, pessoas por nós passam e deixam fortes pegadas no coração. Algumas delas adentram tão profundamente que nos alcançam o ser e partem, deixando para traz um coração-partido.

Irla

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A língua do "P" por Fernanda Takai



Fernanda Barbosa Takai, musicista e cronista brasileira também selecionou um dos contos de Clarice, para compor o livro Clarice na Cabeceira.

Para os que não conhecem a vocalista da banda mineira Pato Fu, Fernanda se mostra uma profissional multifacetaria, pois além de cantar, toca guitarra, violão e compõe para a banda.

Ela escolheu, de Clarice Lispector:

CONTO: A língua do “P”
DO LIVRO:A VIA CRUCIS DO CORPO
APRESENTAÇÃO: Fernanda Takai

EU QUE PENSAVA QUE CONHECIA BEM Clarice me vi com um exemplar de A via crucis do corpo ainda virgem nas mãos. São textos bem desavergonhados e intensamente concisos. Um verdadeiro atestado de excelência criativa.

Neste conto a autora nos pega no contrapé ao costurar, a partir de uma brincadeira infantil, um episódio tragicômico na vida de uma professor de inglês. Nisso ela é mestre: magnificar coisas que acontecem ao nosso redor. Seus personagens são aqueles que ninguém quer ver. Um bocado de gente comum passando pelo extraordinário cotidiano que se esconde pela rotina e pelo enfado.

Se eu tivesse lido o conto sem saber o nome da autora, talvez não acertasse sua procedência. Clarice nos entrega mais um sinal de sua escrita versátil.
Seja nos livros infantis, romances, crônicas, cartas ou contos, ela faz falta. Depois de uma leitura assim, me pego mais apaixonada ainda por personagens como Cidinha, que gostava da perfeição, mas por conta de um súbito despudor, salvou a própria vida.

Sepe vopocêpê nunpuncapa paparoupou prapa lerper seuspeus conpontospos, prepepaparepe-sepe: nãopão vaipai apabanpandoponápá-lospos japamaispais!

Postado por Irla

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Em tempo




Uma voz que não se sabe de onde insiste:
"Inês é morta"
E eu, também um pouco ausente, respondo:
Sem problemas. Eu acredito em vida após a morte.
(...)
E em reencarnação.

Isabella

A repartição dos pães por Cora Rónai

Um pouco mais de Clarice na Cabeceira, por Cora Rónai.



Para os que não conhecem Cora, uma pequena apresentação:
Cora Rónai é uma jornalista brasileira, esposa do cartunista Millor Fernandes, que começou sua carreira em Brasília, tendo trabalhado no Jornal de Brasília, no Correio Braziliense e nas sucursais da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil. Em 1980 voltou para o Rio de Janeiro. Em 1982 deixou o Jornal do Brasil, ao qual retornaria alguns anos depois, para dedicar-se à literatura e ao teatro infantis.
Pioneira do jornalismo de tecnologia, lançou em 1987, no Jornal do Brasil, a primeira coluna sobre computação da grande imprensa brasileira. Usuária de computador pessoal desde 1986, usava, já então, o estilo de escrita coloquial que caracteriza o seu trabalho, seja na área cultural, seja na área tecnológica.

E agora, o conto selecionado, por ela, para compor o livro dos "preferidos" pelos leitores famosos de Clarice.

CONTO: A repartição dos pães
DO LIVRO: A LEGIÃO ESTRAGEIRA
APRESENTAÇÃO: Cora Rónai

O QUE “A REPARTIÇÃO DOS PÃES” tem de encantador é o lado trivial da narrativa, que nasce a partir de uma situação corriqueira, íntima dos leitores. Quem é que já não foi a um almoço ou jantar por obrigação, quem é que já não se viu em silêncio numa sala cheia de estranhos, sonhando em sair dali o mais rápido possível?

O tempo da vida é curto, há um mundo lá fora, mas a obrigação nos prende ali.

Gentileza nem sempre gera gentileza. Quem convida não percebe o peso da âncora que prende os convidados, e o quanto lhes custa a boa educação. Já saí exausta de muitos almoços e festas dessas, que de festivos não têm nada, perplexa com a circunstância e me perguntando o que leva alguém a gastar tempo, boa vontade e dinheiro para aborrecer o seu semelhante.

Na história de Clarice, porém, a mesa farta e caprichada promove uma sutil reviravolta, e o sábado, que parecia jogado fora, ganha novos contornos. Não sei se a situação se repetiria hoje, em que meio mundo está de dieta e a outra metade não bebe por ordens médicas, mas a moral é eterna: a boa comida é sempre uma espécie de milagre.

Postado por Irla

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aniversário da Frô

Ontem (23.08) comemoramos o aniversário da Frô, e não poderiamos deixar de expressar, aqui, nosso carinho e admiração por tão perfumado ser.

Como compreender a essência de uma flor? E, mais ainda, saber da força que tão frágil aparência oculta?

São alguns dos questionamentos que me vêm à mente quando tento falar DA e PARA a Frô!
Antoine de Saint-Exupéry tentou, no livro O Pequeno Príncipe, descrever os sentimentos e emoções que permeiam o “relacionar-se” com a flor, especificamente ele se refere à rosa.



O amor-platônico, ou seja, amor de alma, que o Pequeno Príncipe alimenta pela sua rosa, no seu planeta, e todo o cuidado e atenção que a ela dedica, retrata um pouco do fascínio que a rosa exerce no humano.

“Confessou o Pequeno Príncipe:
- Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava ... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar”. (Exupéry)

Exupéry também exalta “a rosa” no diálogo entre a raposa e o Pequeno Príncipe, naquilo que se refere à amizade, e de como aqueles seres que amamos se diferenciam das demais criaturas, tornando-se SERES ÚNICOS e importantíssimos em nossas vidas.

“[...] Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que puz sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa. [...] Foi o tempo que eu “perdi” com a minha rosa que fez dela tão importante”. (Exupéry)

Assim, tal qual a Rosa do sábio autor, a Frô cativou a cada uma de nós, integrantes do clube, criando laços fortes de amizade, carinho e amor.

Celebramos hoje o dia abençoado, em que Deus colocou no mundo uma das mais belas flores do Seu jardim, sendo nós as agraciadas com esse perfume da Primavera.

Que jamais falte solo fértil para plantar seus sonhos,
Que jamais cesse a chuva para regar seus ideais,
E que sempre brotem flores no roseiral dos seus pensamentos.


Postado por Irla