Esta palavra diz um pouco de cada uma de nós, personagens muito diferentes diante da vida, ora meninas, ora mulheres, ora filhas dependentes, ora mães dadivosas, ora resignadas diante das angustias do mundo, ora revolucionárias na busca por um futuro mais humano. Nos desencontros, nos encontramos, e nessa MULTIPLICIDADE de personalidades, nos agrupamos. Somos, todas e cada uma, diferentes, porém iguais no gosto pela literatura.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
A procura de uma dignidade por Benjamin Moser
Benjamin Moser, norte-americano, nascido em Houston e formado em História. Conheceu a obra de Clarice por acaso, na universidade, quando escolheu estudar português após fracassar no aprendizado de mandarim (chinês). Selecionou, no livro Clarice na cabeceira, dentre os muitos contos de Clarice, o seguinte:
CONTO: A Procura de uma dignidade
DO LIVRO: LAÇOS DE FAMÍLIA
APRESENTAÇÃO: Benjamin Moser
UMA JORNALISTA TELEFORNOU para desmarcar uma entrevista com Clarice Lispector, semanas antes de sua morte. Clarice aconselhou à jornalista, Norma Couri, que não desmarcasse, talvez sentindo que não haveria outra ocasião. Ficaram um tempo falando quando Clarice disse: “Eu ando sempre na contramão.” Norma demorou para entender que Clarice não estava falando metaforicamente: costumava andar literalmente de encontro ao fluxo dos transeuntes nas ruas do Rio de Janeiro.
“Meu drama: é que sou livre”, escreveu. Mas sentindo, ao lê-la, que a liberdade sempre foi, para ela, uma conquista árdua, um bem que nunca chegou a possuir seguramente, uma luta travada contra uma multidão, uma andança em contramão. A procura da liberdade contra um mundo todo feito para negá-la é um dos grandes temas de Clarice Lispector, desde Virgínia, de O Lustre, cuja liberdade é uma cara e frágil conquista: “Tomou um guardanapo, um pãozinho redondo ... com um esforço extraordinário, quebrando em si mesma uma resistência estupefata, desviando o destino, jogou-os pela janela- e assim ela conservara o poder”.
Como as personagens nas primeiras obras de Clarice Lispector, Virgínia é uma jovem; nas obras que se seguiram a O Lustre, as rebeldes adolescentes amadurecem, como sua autora, e se transformam em mães e donas de casa, até que, nos últimos anos de sua vida, as protagonistas de Clarice viram viúvas, avós: senhoras, como a sra. Jorge B. Xavier, a heroína desse conto, que nem um nome próprio tem. Consumada por um desejo patético por Roberto Carlos, fisicamente presa nas entranhas do estádio do Maracanã, não está mais à procura de uma liberdade: agora, ela só quer uma mais modesta”dignidade”. O tempo encurtando, com uma urgência mais palpitante ainda, ela só pede conservar o que resta de seu poder.
É nessa dramatização da crise de uma pessoa que bem sabe que a morte está se aproximando e que procura, por uma última vez que seja, andar na contramão, que vemos o poder sempre espantoso de Clarice Lispector, de nos ajudar a sentir “até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador”.
Postado por Irla
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obg me ajudou muuito !
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