terça-feira, 30 de novembro de 2010

A bela e a fera ou A ferida grande demais por Letícia Spiller


Letícia Pena Spiller, atriz brasileira que iniciou a carreira como uma das paquitas do antigo programa Xou da Xuxa, da Rede Globo, escolheu um dos contos que compõe o livro Clarice na Cabeceira, da Editora Rocco.

CONTO: A bela e a fera ou A ferida grande demais
DO LIVRO: A BELA E A FERA
APRESENTAÇÃO: Letícia Spiller

“NEM SEMPRE MEUS OLHOS contemplam aquilo que desejam ver, o que lhes apraz o coração, a contemplação traz a dor nua e crua, sem fuga para o êxtase. Êxito? Será esse o perdão?

Ver-se a si mesmo naquilo que pensamos que não somos?”

Bela-fera, bela-fera; a miséria pode provocar nobres sentimentos, fazer o belo se sentir feio.

Um encontro decisivo; a bela moça rica e acomodada, provocada pela imagem do mendigo desdentado, questiona a própria existência e é acometida por forte compaixão – a palavra já diz: com paixão – para uma outra realidade possível: “...Não. O mundo não sussurrava. O mundo gri-ta-va!!!! Pela boca desdentada desse homem ...”, ou ainda: “Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga? Nunca pedi esmola mas mendigo o amor de meu marido que tem duas amantes, mendigo pelo amor de Deus que me achem bonita, alegre e aceitável, e minha roupa de alma está maltrapilha ...”
Ela que sempre tivera as coisas facilmente à mão, apesar de não ter seguido seu chamado na vida, que era cantar, ou qualquer coisa que o valha, tinha a sorte de nascer rica e não passar dificuldades como a fome ... mas sua riqueza não a dignificava e ela sentia fome de viver.

Ela e o mendigo estavam zerados; aos dois faltavam oportunidades, perspectiva e fé.

Afinal, como diz o final do poema:

Não teremos nunca escolha diante do crucial, da crueza da vida
Somos o que somos
Adormecidos ou acordados
Plenos ou aturdidos
Dispersos ou abraçados

Postado por Irla

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