terça-feira, 7 de junho de 2011

Como areia movediça o Livro de Areia me tragou!

Como faz tempo que não publicamos, e como estou longe, fisicamente, das integrantes do Clube, resolvi partilhar a descoberta de um livro interessante. Diria que a forma como cheguei até ele foi mais inusitada.

A história começa com minha visita ao MIS - Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.


Ao chegar me deparo com uma exposição que mistura arte e tecnologia, e como adoro a mistura de linguagens, me aventurei em Perceptum Mutantins.

De imediato me encanto com "Libros de Arena", de Mariano Sardón (Arg) intalação interativa que relaciona o movimentos das mãos sobre um cubo de areia com hipertextos que contêm trechos da literatura de Jorge Luis Borges.


Ao tocar a areia com as mãos o texto se move como um fluido e desaparece posteriormente.



Como sou curiosa e apaixonada por literatura, tratei de procurar o livro que inspirou o artista, e cheguei até ele



Para aguçar a curiosidade dos leitores, um pouco da sinopse.

O Livro de Areia (1975) é a última coletâne de contos publicadas por Jorge Luis Borges. Em 13 histórias muito diversas, seguida de um epílogo, o narrador molda variações sintéticas dos temas obsessivos e recorrentes de seu percurso de contista. Com as mãos experientes de um artesão, imprime nelas a modelagem modesta, serena e essencial que lhes garante a eficácia pelos meios mais concisos e, de quebra, o encanto indefinível de um objeto perfeito da natureza.

Postado por Irla

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Onde estivestes de noite por Luis Fernando Carvalho

Pra dar uma atualizada, ainda do livro Clarice na Cabeceira - Contos (por que agora temos Clarice na Cabeceira - Crônicas), o digníssimo Luis Fernando Carvalho escolheu o seguinte conto:



CONTO: É para lá que eu vou
DO LIVRO: ONDE ESTIVESTES DE NOITE
APRESENTAÇÃO: Luis Fernando Carvalho

Luiz Fernando Carvalho de Almeida é um cineasta e diretor de televisão brasileiro. Aos 18 anos fez seus primeiros trabalhos em cinema, ainda como estágiário. Pouco depois começou a trabalhar no nucleo Usina de teledramaturgia da Rede Globo de televisão, onde conheceu o diretor de fotografia Walter Carvalho com quem realizou diversos trabalhos desde então. Neste núcleo foi diretor assistente de diversas minisséries, como O Tempo e o Vento e Grande Sertão: Veredas. Em 2001, enquanto finalizava Lavoura arcaica, dirigiu a minissérie "Os Maias", baseada no romance homônimo de Eça de Queirós. Em 2005 produziu a minissérie Hoje é dia de Maria, que foi comparado a Lavoura Arcaica por ter uma linguagem inovadora para uma minissérie de televisão.Em 2007, dirigiu a série A Pedra do Reino, exibida na TV Globo e baseada no "Romance d'a Pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta", de Ariano Suassuna.Em 2008, dirigiu a minissérie Capitu, baseada na obra de Machado de Assis.[1] E em 2010, dirigiu "Afinal, o que querem as mulheres".

NÓS É QUE ESTAMOS À BEIRA DE Clarice, à beira de Claricear, e nunca Clariceamos; estamos à beira de nascer um Clariceão imenso dentro de nós, e nada, nada de nos entregarmos ao Clariceamento: “Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós”.

Postado por Irla

quarta-feira, 2 de março de 2011

Reencontro com as origens

Quando menos se espera a vida prega peças, e nós, meros personagens de nossa própria história, somos empurrados ao proscênio do grande espetáculo que é redescobrir a nós mesmos.

Reencontrar nossos familiares, amigos de infâncias, velhos conhecidos, enfim rever algumas pessoas de nosso passado nos fazem viajar no tempo e recordar quem fomos, o que gostariamos de ser hoje, e a buscar o lugar exato onde nos perdemos de nós, ao trilhar a estrada do estar no mundo.

Me senti assim esses dias ... quando provoquei o encontro de tia e sobrinha, mãe e tia-avó (a depender de quem escreve!). Dessa junção de pessoas, almas se aproximaram, identificando a origem de sua personalidade tão incomum ... eis a semelhança entre os desiguais ... sei me agora parte desta família.

E para que esse momento jamais se perca no tempo, divido com vocês algumas letras de uma mulher a frente de seu tempo. Uma poesia de minha Tia-avó para minha avó.


Agradecimento
Nitinha - Campina Grande, 29 de outubro de 1965

Tereza, venho agradecer a ti
Por esses dias passados a teu lado
Por essas horas boas, que eu vivi
Quero dizer-te um muito obrigado

Quero contigo deixar, madrinha
As lembranças de que te atormentei
Te peço não zangar queridinha
Que da tua cara eu jamais esquecerei

Era, três, que eu me ria com elas
Além da cara de sempre, a cara de cortar carne
A cara de cochilar e a cara de ouvir novelas

Madrinha, com este um beijo te deixarei
E quando estiver distante, bem longe
Quando for cortar a carne, da tua cara lembrarei

* Para Têca de tua afilhada que muito te quer

Postado por Irla

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quando Nietzsche chorou - Irvin D. Yalom


Sou admiradora da filosofia nietzscheana e fui presenteada com a obra que intitula esse post pela querida amiga BelaIsa.

Há anos queria manuseá-la e, enfim, após 373 páginas de atenção, eis que posso comentá-la. Mas, dessa vez, embora tenha comigo o DIREITO de comentá-la, não o farei. Apenas sugiro-a não só aos partidários das torturantes idéias de Nietzsche, como também aos seus simpatizantes e, principalmente, àqueles que, como eu, deixaram-se atormentar por ver-se presos a uma irrevogávl sina.

AMOR FATI!


(Friedrich Nietzsche)


(Josef Breuer e Mathilde )


(Sigmund Freud)


(Bertha Pappenheim - Anna O.)


(Lou Salomé)



(Paul Rée)


(Lou, Paul e Friedrich)
Como diria um conhecido meu, "essa é fodástica!"





segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A menor mulher do mundo por Luis Fernando Verissimo

Ainda falando de Clarice na Cabeceira, Editora Rocco,
extraimos o seguinte trecho, do
CONTO: A menor mulher do mundo
DO LIVRO: LAÇOS DE FAMÍLIA
APRESENTAÇÃO: Luis Fernando Verissimo

“Foi, pois, assim que o explorador descobriu, toda em pé e a seus pés, a coisa humana menor que existe. Seu coração bateu porque esmeralda nenhuma é tão rara. Nem os ensinamentos dos sábios da Índia são tão raros. Nem o homem mais rico do mundo já pôs olhos sobre tanta estranha graça. Ali estava uma mulher que a gulodice do mais fino sonho jamais pudera imaginar. Foi então que o explorador disse, timidamente e com uma delicadeza de sentimentos de que
sua esposa jamais o julgaria:
— Você é Pequena Flor.”




O grande escritor brasileiro conhecido por suas crônicas e textos de humor, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Luis Fernando Verissimo, se manifesta sobre Clarice da seguinte forma,

EM 1953 MEU PAI FOI CONVIDADO a dirigir o Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, ligada à Organização dos Estados Americanos. Fomos para Washington, uma aborrecida cidade burocrática, no começa da era Eisenhower. O diplomata Maury Gurgel Valente e sua mulher Clarice estavam lá com os dois filhos, Pedro e Paulo, e foram os primeiros brasileiros a dar boas-vindas aos recém-chegados. Eles seriam os melhores amigos dos meus pais nos quatro anos em que ficamos em Washington. Clarice e minha mãe, que não poderiam ter personalidades mais diferentes, tornaram-se amigas de infância. E sem que houvesse qualquer cerimônia, meus pais foram designados padrinhos extraoficiais do filho mais moço dos Valente, o Paulo. (Uma vez fui levar Clarice e os dois meninos em casa de carro e na chegada o Paulinho perguntou: “Não quer entrar e tomar um cafezinho?” Grande surpresa. Ele mal começara a falar, era provavelmente a primeira frase inteira que dizia.) Várias fotografias da Clarice, inclusive algumas que têm saído na imprensa, foram tiradas pelo meu pai durante o convívio dos dois casais naqueles anos americanos. Também houve uma designação extraoficial do meu pai como fotógrafo exclusivo da Clarice.

Eu tinha 16 anos quando chegamos a Washington e a minha primeira impressão da Clarice foi a de todo mundo: fascinação. Com a sua beleza eslava, os olhos meio asiáticos, e erre carregado que fava um mistério especial à sua fala, e ao mesmo tempo com seu humor e seu jeito de garotona ainda desacostumada com o tamanho do próprio corpo. O fato de que aquela Clarice era a Clarice Lispector não dizia muito. Eu sabia que era uma escritora meio complicada, nunca tinha lido nada dela. Só quando voltamos ao Brasil li O lustre, Perto do coração selvagem e, depois, os contos, extraordinários. “A legião estrangeira”, “Amor”, “Uma galinha”, “Macacos”, “Laços de família”, “Festa de Aniversário” e tantos outros, e o melhor conto que conheço em língua portuguesa, “A menor mulher do mundo”.

Em 1962 saí de Porto Alegre e fui morar com minha tia, no Rio. A Clarice, que então já estava separada do Maury, era nossa vizinha no Leme e pude conviver, e me fascinar, um pouco mais com ela.

Anos mais tarde, folheando alguns livros da Clarice, dei com uma dedicatória dela em A maça no escuro, para “meus queridos Erico e Mafalda”. Uma dedicatória brincalhona, datada de julho de 1961, em que ela destaca que o preço do livro nas livrarias é de 980 cruzeiros e que portanto está lhes dando um presente valiosíssimo, e recomenda que ele seja protegido com uma capa colante, do tipo que gruda na mão e “prende” o leitor. No fim há um adendo que eu ainda não tinha visto: “Luis Fernando, considere este livro seu também, por favor. Divida 980 por três e você terá preciosa parte. Sua Clarice”. A lembrança de Clarice vale bem mais do que 980 cruzeiros. Mesmo com todas as correções monetárias acumuladas em 47 anos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Como faz tempo q nao publicamos nada no blog e como é um espaço originariamente feminino (embora os leitores sejam sempre bem-vindos), vou dividir com vcs uma poesia recente que fiz... beijinhos floridos!

...



Tenho inveja das mulheres de riso fácil.
Me encanto com elas
E a beleza dos dentes à mostra,
De boca aberta,
Me comove.
Nelas, os olhos sorriem antes dos lábios.
Elas irradiam uma luz que parece que vem do nada
E vai para o nada.

Invejo as brincalhonas, estabanadas.
Invejo as dançarinas de plantão.
Invejo as falantes, cujas palavras
Viajam sem rumo.
As curiosas bisbilhoteiras.
As que não perdem tempo pensando tanto.
Invejo sobretudo as vaidosas.
Invejo muito as que aos olhos do mundo, vivem.

Tanta inveja só não me mata
Porque sei que não sou assim tudo,
não porque não consigo,
mas porque não sou.
E essa ideia me aconchega.
E sou o que sou
Talvez um nada,
ou só uma invejosa.

A natureza invejosa, na verdade, me cresce,
Me dizendo: sei admirar
E poucas pessoas têm esse dom.
Sou o que sou:
uma invejosa admiradora.
Uma admiradora invejosa.
E como sei que não serei o que invejo,
Apenas admiro e amo.

(frô)