quarta-feira, 28 de julho de 2010

O ovo e a galinha por Claire Williams



A escolha de Claire Williams, especialista em literatura luso-brasileira da Universidade de Oxford, foi O ovo e a galinha, conto apresentando no I Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, Colômbia, em viagem realizada por Clarice Lispector com a amiga Olga Borelli. No dia de sua apresentação sente-se indisposta e pede a alguém que leia o conto, não apresentando a fala sobre a magia que havia preparado para a introdução da leitura.

CONTO: O ovo e a galinha
DO LIVRO: A LEGIÃO ESTRAGEIRA
APRESENTAÇÃO: Claire Williams

ESCORREGADIÇO, LÍQUIDO, VISCOSO ... Este conto se acomoda à forma da mente de quem o lê. O enredo é deliciosamente mínimo: “De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo [...] E me faz sorrir no meu mistério. “A mera vista desse ovo faz estalar na cabeça da narradora milhões de ovos-ideias e ovos-imagens que disparam em mil direções. É um puzzle de pedacinhos de casca de ovo. Tem múltiplas dimensões: terror, humor, romance, tragédia, ficção científica, geometria, filosofia, suspense, espionagem, história, gastronomia, anatomia, viagens no tempo e no espaço, genealogia, física, absurdeza, lógica, fórmulas matemáticas, comédia infantil ... tudo... e nada. É um conto em que cada leitor encontrará uma frase, pelo menos uma, que o toca, que o faz ponderar. É um conto em que se descobre algo novo em cada leitura, e em que se perde. Nunca o entendo, mas não e propriamente para entender. Se lê com os sentidos, mas não tem um sentido propriamente dito. A própria Clarice levou este conto para um Congresso de Bruxaria na Colômbia em 1975 para representar a obra dela e confessou aos congressistas: “É misterioso até para mim”. De um ponto de vista pessoal, o primeiro artigo de crítica literária que eu consegui publicar tratou deste conto e noções de maternidade e filiação. Marcou, assim, a eclosão da minha carreira. A palavra "galinha” aparece apenas 53 vezes e a palavra “ovo” 164 vezes, em quase todas as frases, cada “o” uma forma ovóide, dominando o texto. Não nos esclarece sobre a velha questão de quem chegou primeiro, mas acabamos sabendo, sem dúvida, quem desata mais atenção e inspiração.

Postado por Irla

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