quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A repartição dos pães por Cora Rónai

Um pouco mais de Clarice na Cabeceira, por Cora Rónai.



Para os que não conhecem Cora, uma pequena apresentação:
Cora Rónai é uma jornalista brasileira, esposa do cartunista Millor Fernandes, que começou sua carreira em Brasília, tendo trabalhado no Jornal de Brasília, no Correio Braziliense e nas sucursais da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil. Em 1980 voltou para o Rio de Janeiro. Em 1982 deixou o Jornal do Brasil, ao qual retornaria alguns anos depois, para dedicar-se à literatura e ao teatro infantis.
Pioneira do jornalismo de tecnologia, lançou em 1987, no Jornal do Brasil, a primeira coluna sobre computação da grande imprensa brasileira. Usuária de computador pessoal desde 1986, usava, já então, o estilo de escrita coloquial que caracteriza o seu trabalho, seja na área cultural, seja na área tecnológica.

E agora, o conto selecionado, por ela, para compor o livro dos "preferidos" pelos leitores famosos de Clarice.

CONTO: A repartição dos pães
DO LIVRO: A LEGIÃO ESTRAGEIRA
APRESENTAÇÃO: Cora Rónai

O QUE “A REPARTIÇÃO DOS PÃES” tem de encantador é o lado trivial da narrativa, que nasce a partir de uma situação corriqueira, íntima dos leitores. Quem é que já não foi a um almoço ou jantar por obrigação, quem é que já não se viu em silêncio numa sala cheia de estranhos, sonhando em sair dali o mais rápido possível?

O tempo da vida é curto, há um mundo lá fora, mas a obrigação nos prende ali.

Gentileza nem sempre gera gentileza. Quem convida não percebe o peso da âncora que prende os convidados, e o quanto lhes custa a boa educação. Já saí exausta de muitos almoços e festas dessas, que de festivos não têm nada, perplexa com a circunstância e me perguntando o que leva alguém a gastar tempo, boa vontade e dinheiro para aborrecer o seu semelhante.

Na história de Clarice, porém, a mesa farta e caprichada promove uma sutil reviravolta, e o sábado, que parecia jogado fora, ganha novos contornos. Não sei se a situação se repetiria hoje, em que meio mundo está de dieta e a outra metade não bebe por ordens médicas, mas a moral é eterna: a boa comida é sempre uma espécie de milagre.

Postado por Irla

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