segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lygia e suas Meninas



Ana Clara fazendo amor. Lião fazendo comício. Mãezinha fazendo análise. As freirinhas fazendo doce, sinto daqui o cheiro quente de doce de abóbora. Faço filosofia. Ser ou estar. Não, não é ser ou não ser, essa já existe, não confundir com a minha que acabei de inventar agora. Originalíssima. [...] Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim.



A capacidade de nos colocar frente-a-frente com as personagens vai muito além das descrições minuciosas de Lygia. Ela nos faz ver além das aparências, como se estivéssemos imersos nos seres narrados, nos proporcionando adentrar às mentes e aos corações de Lorena, Ana Clara e Lia, compartilhando seus mais variados pensamentos e emoções.

A autora nos mostra todo o Mal e o Bem que o ser humano é capaz de promover, expondo todas as fraquezas, angústias, vícios, fugas e DOR que não gostaríamos de enxergar ou sentir, mas que são e existem em nosso íntimo, ainda que tentemos camuflá-los.

Somos obrigadas a VER o que somos e sentimos, sem máscaras para nos proteger, assim desnudas as personagens nos apresentam seus traumas infantis, como o estupro de Ana Turva, a perda do irmão de Lorena (que não fica claro ser uma fantasia e/ou realidade), e as vivências com a sexualidade, como a experiência homossexual de Lia, o desejo de perder a virgindade de Lorena com um homem casado, a promiscuidade de Ana Clara. Por fim, o sentimento de carência que une as três jovens, tão diferentes, que vivem em um pensionato de freiras, se revela comum “Angústia”.

A cada parágrafo Lygia desafia a nossa capacidade de OLHAR o outro através dos seus pensamentos, pois nos expõe a alma das personagens esperando que o leitor identifique-as pelo conteúdo mais profundo dos seres, as idéias.


Aponta os métodos que usamos para fugir da nossa realidade e do sofrimento, seja através do vício (drogas, alcoolismo) e/ou nos fechando em nosso mundo particular, como Ana Turva e o uso constante de cocaína, e Lorena que se isola no seu quarto, espaço onde exerce o controle e mantêm-na na zona de conforto.

“As meninas” pode num primeiro instante parecer um livro doce e meigo do universo de garotas, mas se revela numa densa carga emocional de mulheres em formação.


* Reflexões sobre nossa reunião, do Clube do Livro, em torno do livro “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles.

Postado por Irla

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Letras


Letras só hão de ter um significado se unidas formam palavras.
De mãos dadas, pelas semelhanças que as conectou, letras são como amigas de infância que na brincadeira constroem emoção.
Disformes, separadas, deslocadas ou isoladas não dizem nada, são pedaços de um sentimento que não foi ... ficou!

Irla

A bela e a fera ou A ferida grande demais por Letícia Spiller


Letícia Pena Spiller, atriz brasileira que iniciou a carreira como uma das paquitas do antigo programa Xou da Xuxa, da Rede Globo, escolheu um dos contos que compõe o livro Clarice na Cabeceira, da Editora Rocco.

CONTO: A bela e a fera ou A ferida grande demais
DO LIVRO: A BELA E A FERA
APRESENTAÇÃO: Letícia Spiller

“NEM SEMPRE MEUS OLHOS contemplam aquilo que desejam ver, o que lhes apraz o coração, a contemplação traz a dor nua e crua, sem fuga para o êxtase. Êxito? Será esse o perdão?

Ver-se a si mesmo naquilo que pensamos que não somos?”

Bela-fera, bela-fera; a miséria pode provocar nobres sentimentos, fazer o belo se sentir feio.

Um encontro decisivo; a bela moça rica e acomodada, provocada pela imagem do mendigo desdentado, questiona a própria existência e é acometida por forte compaixão – a palavra já diz: com paixão – para uma outra realidade possível: “...Não. O mundo não sussurrava. O mundo gri-ta-va!!!! Pela boca desdentada desse homem ...”, ou ainda: “Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga? Nunca pedi esmola mas mendigo o amor de meu marido que tem duas amantes, mendigo pelo amor de Deus que me achem bonita, alegre e aceitável, e minha roupa de alma está maltrapilha ...”
Ela que sempre tivera as coisas facilmente à mão, apesar de não ter seguido seu chamado na vida, que era cantar, ou qualquer coisa que o valha, tinha a sorte de nascer rica e não passar dificuldades como a fome ... mas sua riqueza não a dignificava e ela sentia fome de viver.

Ela e o mendigo estavam zerados; aos dois faltavam oportunidades, perspectiva e fé.

Afinal, como diz o final do poema:

Não teremos nunca escolha diante do crucial, da crueza da vida
Somos o que somos
Adormecidos ou acordados
Plenos ou aturdidos
Dispersos ou abraçados

Postado por Irla

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Laranja Mecânica

Há pouco tempo todas as integrantes do clube fizeram um teste para saber com quais filmes combinam suas personalidades.

Curiosa que sou, quis conhecer um pouco mais sobre os tais filmes e, consequentemente, um pouco mais sobre minhas amigas.

Comecei então assistindo à obra relacionada à Gabriella (Frô), cujo teste resultou no filme “Laranja Mecânica”, sobre o qual teço algumas considerações (ou opiniões) e informações.

Baseado no romance homônimo de Anthony Burgess, o filme é de fato estarrecedor! Clássico de uma geração, nos leva a pensar sobre o que a sociedade da década de 60 impunha como “modelo aceitável”, sendo questionada a cultura de massa, o que implica na extinção das liberdades individuais.

Apesar de ter recebido críticas quanto à violência das cenas, achei o roteiro fantástico! Apresento a seguir algumas curiosidades sobre o filme e também sobre o livro "Laranja Mecânica", ficando como convite sua apreciação!

Sobre o filme


Laranja Mecânica (título original em inglês: A Clockwork Orange) é um filme britânico de 1971, dirigido por Stanley Kubrick, cujo protagonista, Alex é interpretado pelo ator britânico Malcolm McDowell. O filme tornou-se um clássico do cinema mundial e um dos filmes mais famosos e influentes de Kubrick.

Sobre o Livro

Título: Laranja Mecânica
Autor: Anthony Burgess
Primeira edição: 1962, W. Heinemann (Londres)
Título original: A Clockwork Orange
Adaptação para o cinema: 1971

Laranja Mecânica se tornou a obra mais conhecida de Anthony Burgess em razão da polêmica adaptação realizada para o cinema em 1971 por Stanley Kubric. O romance foi inspirado num grupo de arruaceiros que o autor conheceu em São Petersburgo. É narrado pelo adolescente Alex e pontilhado de gírias derivadas do russo. Alex e sua gangue (Dim, Pete e Georgie) levam uma vida de violência: quando espancam um velho e estupram a mulher dele, não vão muito além da rotina de uma noite qualquer. Quando por fim é preso, Alex é escolhido como cobaia para a nova “técnica de Ludovico”, tratamento antiviolência de matizes pavlovianos: se chegar sequer a pensar em algo violento, ele imediatamente é refreado pela náusea. A inovação é aclamada como um grande sucesso. Após uma malograda tentativa de suicídio, quando Alex ainda está inconsciente, os psicólogos do governo revertem a técnica de Ludovico. Durante um tempo Alex volta a seu comportamento violento, mas ao fim do livro já começa a dar sinais de conformismo. Na edição americana, o último capítulo foi excluído, contra a vontade de Burgess, por ser considerado demasiadamente sentimental.

Laranja Mecânica faz um comentário sobre aquilo que o autor via como o desejo da sociedade, no início dos anos 1960, de suprimir as liberdades individuais em favor de uma cultura massificada. Burgess faz referência às técnicas de condicionamento psicológico da época, para ele repugnantes. A escolha que Alex voluntariamente faz pelo conformismo o eleva a um nível moral bem mais alto que o da inocuidade forçada de seu tratamento: a liberdade total.

Sobre o autor

Anthony Burgess (nascido em 1917, Inglaterra, faleceu em 1993) era um autor excepcionalmente prolífico: Laranja Mecânica foi um dos cinco romances publicados entre 1960 e 1962.

Curiosidades

• No livro, o sobrenome de Alex não é revelado em momento algum. Comenta-se que DeLarge seja uma referência a um momento no livro em que Alex chama a si mesmo de "Alexander the Large".

• O filme foi proibido no Brasil na época do lançamento, mas liberado depois de alguns anos com a condição de que a genitália da mulher na cena de estupro fosse encoberta por meio de manchas pretas sobrepostas à cena. Quem assistiu ao filme naquela época pôde perceber que tais "manchas pretas" nem sempre acompanhavam a vagina com os pêlos pubianos. Isso sem contar que a censura era de 18 anos. Tais acontecimentos no Brasil tornaram a censura militar ridicularizada.

• Em um episódio de Halloween dos Simpsons, Bart Simpson estava fantasiado de Alex.

• A banda Sepultura lançou, no início de 2009, o álbum A-lex, inspirado inteiramente no livro. Inclusive todos os títulos das músicas têm relação com a obra de Anthony Burgess.

Fonte: livro 1001 Livros para ler antes de morrer e site Wikipedia

sábado, 27 de novembro de 2010

Falando de Lygia...




"Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos, não precisaremos desses sanatórios, porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas."


*Lygia Fagundes Telles[1] (São Paulo, 19 de abril de 1923) é uma escritora brasileira, galardoada com o Prémio Camões em 2005. É membro da Academia Paulista de Letras desde 1982, da Academia Brasileira de Letras desde 1985[2] e da Academia das Ciências de Lisboa desde 1987. Formou-se em Direito e em Educação Física. É autora de diversos romances e livros de contos, tais como "As meninas"; "A noite escura mais eu"; "Ciranda de Pedra"; "As horas nuas"; "Antes do baile verde", dentre muitos outros.


Só para entrar no clima da escritora a cujo universo nos lançaremos juntas, um pouco mais, a partir de amanhã, em nossa reunião do Clube do Livro.

Isabella

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Explicação de poesia sem ninguém pedir



Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia
Atravessou minha vida
virou só sentimento


Adélia Prado



*Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela sua fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, ainda que maternal, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, movimento cujos conflitos não aparecem em seus textos.
(Fonte: Wikipedia - fragmentos)

Poetinha querida, que acabou de lançar "A duração do dia".
Texto dos mais sublimes que já li.


Isabella

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Luz




Pela pressa que sentes,

e por não ter pressa,

Pela presa que não és

de tudo o que aprisiona,

pelas vozes que reproduz o teu signo,

pelas vezes infinitas que tua alma grita,

pelo sonho que a realidade te causa

e pela causa que teu sonho almeja,

A poesia em ti

vem antes de ti:

A poesia em ti é a vida.

Isabella

*Em homenagem ao aniversário de nossa amiga Lori.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O relatório da coisa por José Castello

Hoje falaremos, através das palavras de José Castello, sobre o conto O relatório da coisa, que também se encontra no livro Clarice na Cabeceira.

CONTO: O relatório da coisa
DO LIVRO: ONDE ESTIVESTES DE NOITE
APRESENTAÇÃO: José Castello

José Castello (Rio de Janeiro, 1951) é um escritor e crítico literário brasileiro. Está radicado em Curitiba e é autor de crônicas publicadas periodicamente no jornal O Globo e dos livros Inventário das Sombras e Fantasma, ambos publicados pela Editora Record; O Poeta da Paixão, publicado pela editora Companhia das Letras; e O Homem Sem Alma / Diário de Tudo, publicado pela Editora Bertrand. Seu mais recente livro é A Literatura na Poltrona, publicado pela Record.


CLARICE LISPECTOR DIZIA TER a capacidade de “enxergar a coisa pela coisa”. De abster-se das palavras. Usou palavras brutas e enigmáticas: “isso”, “it”, “ a coisa”. Era seu esforço para chegar onde as palavras não alcançam. Coisas que escapam à armadura dos nomes.

“O relatório da coisa” é um corajoso esforço para acessar esse mundo em que as palavras se tornam não só desnecessárias, mas absurdas. Ao coração selvagem em que nos debatemos. Mesmo com as melhores palavras, algo sempre escapa. Esse algo é a “coisa”.

Clarice exclui o relatório de sua literatura. “Esse relatório é a antiliteratura da coisa”, diz. Dispensa o conforto que as palavras nos oferecem. Seu relato – mas não é relato, é relatório – avança e avança, e não chega a coisa alguma. É justamente porque fracassa que ele delimita a coisa.

Clarice materializa a coisa em um relógio: não qualquer relógio, mas um relógio determinado, da marca “Sveglia”. Em italiano, “sveglia” quer dizer “acorda”. Palavras sempre remetem a novas perguntas: “Acorda para o quê, meu Deus?”, ele se pergunta.

Não importa saber se “O relatório da coisa” é um conto. Sem dúvida, é literatura. Seu relato é – e, nesse verbo que dispensa um objeto, reside sua potência. A literatura não se reduz a belas palavras. Ou é, ou não é. Se não é, fechamos o livro.

(FIM)

Postado por Irla

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A quinta história por Fernanda Torres

Dando continuidade as apresentações dos contos, publicados no livro Clarice na Cabeceira, da Editora Rocco, trazemos o texto de Fernanda Torres.


Fernanda Pinheiro Monteiro Torres (Rio de Janeiro, 15 de setembro de 1965) é uma atriz brasileira. Filha do casal de atores Fernando Torres e Fernanda Montenegro, aos 13 anos, entrou para o Tablado.

O conto selecionado por ela foi:

CONTO: A quinta história
DO LIVRO: A LEGIÃO ESTRANGEIRA
APRESENTAÇÃO: Fernanda Torres

O QUE ESCREVER DIANTE DE UM CONTO em três partes em que o simples ato de matar uma barata na cozinha de casa ganha a dimensão de uma tragédia grega surrealista? Nada.

Não há o que acrescentar. Tenho até vergonha de escrever: Qualquer comentário me parece obsoleto.

CLARICE ME DEIXA MUDA.

Postado por Irla

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ClariCINE

"Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano, e solitário”.

Assim somos nós, SERES HUMANOS, assim é Clarice Lispector e sua misteriosa MÁSCARA.

Seguindo nossa paixão por Clarice, sua personalidade e obras, nos reunimos (algumas das integrantes do Clube) para assistir ao Documentário Especial – Clarice Lispector, gravado pela TV Cultura, cuja protagonista, obviamente, é nossa DIVA, Clarice, que teve Gastão Moreira como apresentador.


Desde já recomendamos a todos os fãs de Clarice que o assistam!

O programa começa com a seguinte colocação “se fosse inventada uma escala para medir abalos sísmicos literários, por certo, tudo o que Clarice Lispector escreveu atingiria grau máximo”.

O apresentador faz, ainda, a advertência de que “ela era uma terremoto completo!” e completa dizendo ser “preciso reconhecer que para mergulhar na leitura de Clarice Lispector é necessário certo preparo psicológico”.

Sobre a gravação, é composta de uma entrevista realizada em 1977 por Julio Lerner, pouco antes de Clarice morrer, onde ela fala sobre suas origens, a família, o ofício de escritora, como começou a escrever e sobre seu último livro, que acabara de escrever e ainda não sabia o nome (A Hora da Estrela).

- Eu acho que quando eu não escrevo estou morta! diz.

- Bem, agora eu morri, vamos ver se eu renasço de novo... por enquanto estou morta!... acrescenta.

O programa ainda traz depoimentos da cineasta SUZANA AMARAL (que transformou em filme o último livro de Clarice: A Hora da Estrela), falando sobre as personagens da escritora e seus olhares subjetivos; MARILENA ANSALDI (atriz e coreógrafa. Pioneira na criação de espetáculos que unem dança, teatro e recursos multimídia, a intérprete-criadora é precursora da dança-teatro no Brasil), protagonista de “Um Sopro de Vida” falando sobre solidão, MARIA BETHÂNIA declamando alguns poemas de Clarice; e a amiga OLGA BORELLI, falando sobre sua relação de amizade com a escritora, bem como sobre a doença de Clarice, um câncer generalizado que veio a provocar sua morte.
“Mistura de prosa, confissão, discursos internos e poesia. Clarice sempre soube resolver nossos mais secretos medos”, mais uma verdade colocada por Gastão no inicio do programa.


Questionada sobre quando começa sua carreira literária, Clarice revela que “antes dos 7 anos já escrevia, inclusive inventei uma história que não acaba nunca. [...] Quando comecei a ler e escrever, comecei a inventar pequenas histórias”.
Sobre sua produção literária na adolescência, ela afirmou “ser caótica, intensa, inteiramente fora da realidade da vida”.

Ouvir de Clarice frases como:

- Tinha uma timidez de ousada. Sou tímida e ousada ao mesmo tempo.

Ou ainda:

- Eu não sou uma profissional. Eu só escrevo quando eu quero. Eu sou amadora, e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou com o outro, em relação ao outro. Faço questão de não ser uma profissional para manter a minha liberdade.

fazem-nos ficar ainda mais intrigadas e apaixonadas pela personalidade de uma Mulher que busca o autoconhecimento pelas palavras, pela escrita, e, por que não, pela literatura.

Através dos livros-infantis, romances, contos e crônicas, Clarice atingiu vários públicos. Quando lhe perguntam se ela sentia mais facilidade em comunicar-se com criança ou adulto, mostra-se por inteiro. “Quando me comunico com criança é fácil, por que sou maternal. Quando me comunico com o adulto, na verdade, estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, aí é difícil. O adulto é triste e solitário. A criança é fantasia, solta”.

Essas e muitas outras falas de Clarice, no decorrer do documentário, reafirmaram nossa paixão por essa mulher que não teve medo de desvendar a si mesma.

Postado por Irla

domingo, 26 de setembro de 2010

Convite aceito (?)




Ele disse:

-Amem...

Amém.
Isabella

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pulsação


Sem buscar, ou mesmo desejar, aconteceu.

Os olhos se viram, as mãos se tocaram, os lábios se encontraram, enfim .

Já não bastasse tudo o que convergia para estarem juntos, o corpo pulsava.

Talvez não o corpo todo, mas uma série de funções fisiológicas, psíquicas e imaginativas que se movimentavam, e era quente.

Quando os corpos, por fim, se uniram, uma explosão de sensações fluiu por todas as extremidades dos corpos em chamas. Fervia.

Eles já não eram mais os mesmos.

O corpo possuía uma temperatura mais elevada, a pele exalava um outro odor, o coração pulsava descompassadamente.

A partir daquele instante, estavam eles em uma outra frequência - talvez em outro tempo, em um outro espaço.

Irla

domingo, 19 de setembro de 2010

Segredo



Esta saudade aqui

cabe toda em um verso

mas, ai de mim,

ela não cabe no universo.


Isabella

domingo, 12 de setembro de 2010

Flor



Seu interior

muito mais que água

muito mais que terra

é céu interior


Isabella
Com todo carinho, para minha querida amiga Frô

terça-feira, 7 de setembro de 2010


Ela diz:

"(...) só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal. Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas... e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro."


e a ela, Rilke transborda:

"Tapa-me os olhos: ainda posso ver-te
Tapa-me os ouvidos: ainda posso ouvir-te
E mesmo sem pés posso ir para tí
E mesmo sem boca posso invocar-te.
Arranca-me os braços: ainda posso apertar-te
Com meu coração como com a minha mão
Arranca-me o coração: e meu cérebro palpitará
e mesmo se me puseres fogo ao cérebro
Ainda ei de levar-te em meu sangue."

...

Louise Von Salomé, ou simplesmente Lou Salomé.
Entrou nas veias quentes de Rilke, Nietzsche, Freud e Paul Rée,
fazendo-os pulsar, levando-os ao céu e ao inferno interior de cada um.


(fonte: http://eternamentelou.blogspot.com)


frô
(ps.: aproveito a oportunidade para convidá-los a reconhecer meu cantinho, que após mta paciência da libélula, a flor conseguiu dar um novo ar: www.libelulahelicoptero.blogspot.com)

sábado, 28 de agosto de 2010

Pés, passos, coração partido



Pés são pedaços de nosso corpo, ou seriam o corpo?

Seriam os pés, pedaços de mim, ou eu parte do que meus pés almejam descobrir?

Tiro dele os primeiros passos e sustento-me enquanto corpo, enquanto parte, enquanto todo.

Com eles e através deles, vivenciei experiências de novas terras, texturas e temperaturas.

A cada passada, um novo começo, um novo caminho e uma nova viagem.

Dos rastros, que deixam partes de mim por onde passei, enxergo memórias, sensações, amor que vêm à tona com uma beleza que não se vê, se sente.

Nos tropeços da vida, pessoas por nós passam e deixam fortes pegadas no coração. Algumas delas adentram tão profundamente que nos alcançam o ser e partem, deixando para traz um coração-partido.

Irla

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A língua do "P" por Fernanda Takai



Fernanda Barbosa Takai, musicista e cronista brasileira também selecionou um dos contos de Clarice, para compor o livro Clarice na Cabeceira.

Para os que não conhecem a vocalista da banda mineira Pato Fu, Fernanda se mostra uma profissional multifacetaria, pois além de cantar, toca guitarra, violão e compõe para a banda.

Ela escolheu, de Clarice Lispector:

CONTO: A língua do “P”
DO LIVRO:A VIA CRUCIS DO CORPO
APRESENTAÇÃO: Fernanda Takai

EU QUE PENSAVA QUE CONHECIA BEM Clarice me vi com um exemplar de A via crucis do corpo ainda virgem nas mãos. São textos bem desavergonhados e intensamente concisos. Um verdadeiro atestado de excelência criativa.

Neste conto a autora nos pega no contrapé ao costurar, a partir de uma brincadeira infantil, um episódio tragicômico na vida de uma professor de inglês. Nisso ela é mestre: magnificar coisas que acontecem ao nosso redor. Seus personagens são aqueles que ninguém quer ver. Um bocado de gente comum passando pelo extraordinário cotidiano que se esconde pela rotina e pelo enfado.

Se eu tivesse lido o conto sem saber o nome da autora, talvez não acertasse sua procedência. Clarice nos entrega mais um sinal de sua escrita versátil.
Seja nos livros infantis, romances, crônicas, cartas ou contos, ela faz falta. Depois de uma leitura assim, me pego mais apaixonada ainda por personagens como Cidinha, que gostava da perfeição, mas por conta de um súbito despudor, salvou a própria vida.

Sepe vopocêpê nunpuncapa paparoupou prapa lerper seuspeus conpontospos, prepepaparepe-sepe: nãopão vaipai apabanpandoponápá-lospos japamaispais!

Postado por Irla

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Em tempo




Uma voz que não se sabe de onde insiste:
"Inês é morta"
E eu, também um pouco ausente, respondo:
Sem problemas. Eu acredito em vida após a morte.
(...)
E em reencarnação.

Isabella

A repartição dos pães por Cora Rónai

Um pouco mais de Clarice na Cabeceira, por Cora Rónai.



Para os que não conhecem Cora, uma pequena apresentação:
Cora Rónai é uma jornalista brasileira, esposa do cartunista Millor Fernandes, que começou sua carreira em Brasília, tendo trabalhado no Jornal de Brasília, no Correio Braziliense e nas sucursais da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil. Em 1980 voltou para o Rio de Janeiro. Em 1982 deixou o Jornal do Brasil, ao qual retornaria alguns anos depois, para dedicar-se à literatura e ao teatro infantis.
Pioneira do jornalismo de tecnologia, lançou em 1987, no Jornal do Brasil, a primeira coluna sobre computação da grande imprensa brasileira. Usuária de computador pessoal desde 1986, usava, já então, o estilo de escrita coloquial que caracteriza o seu trabalho, seja na área cultural, seja na área tecnológica.

E agora, o conto selecionado, por ela, para compor o livro dos "preferidos" pelos leitores famosos de Clarice.

CONTO: A repartição dos pães
DO LIVRO: A LEGIÃO ESTRAGEIRA
APRESENTAÇÃO: Cora Rónai

O QUE “A REPARTIÇÃO DOS PÃES” tem de encantador é o lado trivial da narrativa, que nasce a partir de uma situação corriqueira, íntima dos leitores. Quem é que já não foi a um almoço ou jantar por obrigação, quem é que já não se viu em silêncio numa sala cheia de estranhos, sonhando em sair dali o mais rápido possível?

O tempo da vida é curto, há um mundo lá fora, mas a obrigação nos prende ali.

Gentileza nem sempre gera gentileza. Quem convida não percebe o peso da âncora que prende os convidados, e o quanto lhes custa a boa educação. Já saí exausta de muitos almoços e festas dessas, que de festivos não têm nada, perplexa com a circunstância e me perguntando o que leva alguém a gastar tempo, boa vontade e dinheiro para aborrecer o seu semelhante.

Na história de Clarice, porém, a mesa farta e caprichada promove uma sutil reviravolta, e o sábado, que parecia jogado fora, ganha novos contornos. Não sei se a situação se repetiria hoje, em que meio mundo está de dieta e a outra metade não bebe por ordens médicas, mas a moral é eterna: a boa comida é sempre uma espécie de milagre.

Postado por Irla

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aniversário da Frô

Ontem (23.08) comemoramos o aniversário da Frô, e não poderiamos deixar de expressar, aqui, nosso carinho e admiração por tão perfumado ser.

Como compreender a essência de uma flor? E, mais ainda, saber da força que tão frágil aparência oculta?

São alguns dos questionamentos que me vêm à mente quando tento falar DA e PARA a Frô!
Antoine de Saint-Exupéry tentou, no livro O Pequeno Príncipe, descrever os sentimentos e emoções que permeiam o “relacionar-se” com a flor, especificamente ele se refere à rosa.



O amor-platônico, ou seja, amor de alma, que o Pequeno Príncipe alimenta pela sua rosa, no seu planeta, e todo o cuidado e atenção que a ela dedica, retrata um pouco do fascínio que a rosa exerce no humano.

“Confessou o Pequeno Príncipe:
- Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava ... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar”. (Exupéry)

Exupéry também exalta “a rosa” no diálogo entre a raposa e o Pequeno Príncipe, naquilo que se refere à amizade, e de como aqueles seres que amamos se diferenciam das demais criaturas, tornando-se SERES ÚNICOS e importantíssimos em nossas vidas.

“[...] Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que puz sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa. [...] Foi o tempo que eu “perdi” com a minha rosa que fez dela tão importante”. (Exupéry)

Assim, tal qual a Rosa do sábio autor, a Frô cativou a cada uma de nós, integrantes do clube, criando laços fortes de amizade, carinho e amor.

Celebramos hoje o dia abençoado, em que Deus colocou no mundo uma das mais belas flores do Seu jardim, sendo nós as agraciadas com esse perfume da Primavera.

Que jamais falte solo fértil para plantar seus sonhos,
Que jamais cesse a chuva para regar seus ideais,
E que sempre brotem flores no roseiral dos seus pensamentos.


Postado por Irla

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Resultado do Alétheia - Antologia de Contos

Até que enfim o site Na Ponta do Lápis publicou o resultado dos selecionados para a coletânea de contos Alétheia.

Ao todo, foram 23 textos escolhidos. Todavia, muitas histórias de qualidade não puderam fazer parte da antologia por motivos editoriais.

Assim sendo, seguem abaixo os selecionado, em ordem alfabética:

Aleta Vieira
Aline T. K. Miguel
Andre Catarinacho
Bernardo Veiga
Bianca Briones
Bianca Carvalho
Bruna Maria
Darcicley Lopes
Georgette Silen
Isie Fernandes
Jana Lauxen
Leonardo Schabbach (participação como coordenador)
Luiz Fernando
Luiz Teodósio
Mariana Rafaela Rosa da Silva
Nilton Silveira
Pedro Garcia
Ricardo Falco
Rodrigo Matos
Silvinho R. S. Paradiso
Tarcísio Mello
Thiago Pereira Neves
Vicência Jaguaribe

Postado por Irla

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Homenagem às aniversariantes


(imagem: http://browse.deviantart.com)


RELACIONAMENTOS: TROCA OU BARGANHA? O MELHOR É COMPARTILHAR!
por El Morya Luz da Consciência - nucleo.elmorya@terra.com.br / nucleo.elmorya@gmail.com

"Só podemos falar francamente sobre nossos defeitos, para aqueles que reconhecem nossas qualidades".
(André Émile H. Maurois)


Relacionamento é troca! Pensei muito no que quer dizer troca. Dizem que uma relação é uma via de mão dupla, então, se, de um lado recebemos, do outro precisamos doar. Quando alguém exige a troca, o retorno, o que será que se passa em sua cabeça? Trocar é: eu te dou isso e você me devolve aquilo? Será que alguém pergunta se temos algo para dar à altura de quem está se doando? Isso, para mim, chama-se Barganha! Desvirtua muitos relacionamentos, que baseados no ego, cobram, e às vezes muito caro. Entendo a troca somente com muito equilíbrio. Se o valor estipulado por algo que recebemos for muito alto, podemos não concordar com o preço, ou mesmo, " não ter com que pagar". Nesse caso seria muito mais honesto se as pessoas dessem seu preço antes de barganhar o amor.


Costumo dizer a quem me pergunta o que achei do preço estipulado por algum serviço prestado: não acho nada "caro" ou "exorbitante", apenas tenho consciência que aquilo não é para mim, que não posso pagar. Agora, imagine-se dentro de um relacionamento onde o outro supervaloriza-se sem te perguntar se você pode pagar? Ou melhor, se você tem para pagar... Sempre um dos dois sairá perdendo, ou pior, devendo! Será que é isso mesmo que chamam de amar? De se relacionar? Isso vale para qualquer tipo de relacionamento, seja ele entre um homem e uma mulher, entre amigos, parentes, etc.


É impossível pensar que o amor, principalmente, o incondicional, como nosso Querido Mestre Jesus ensinou, seja apenas uma troca. Acredito sim, que ao nos relacionarmos " compartilhamos" . Só assim temos a liberdade de apenas SER. Eu dou aquilo que "tenho" para dar, e aceito o que o outro possui. Um compartilha daquilo que o outro tem, e fica com aquilo que lhe serve. Aquele que doa, precisa apenas estar atento se está emanando o que tem de melhor em si. Porém, nem sempre aprendemos a cultivar em nós, o que o outro espera, e, isso, causa muitas frustrações e discórdias.


Nesse momento, precisamos parar e olhar para dentro de nosso coração, e perguntar: será que é útil e importante para meu crescimento pessoal e espiritual desenvolver aquilo que estão me pedindo? Se assim for, não há nada errado em promover mudanças naquilo que está inadequado para viver melhor. Mas, se a mudança esperada pelo outro não fizer parte de você, de sua essência, e não te trará nenhuma contribuição, a não ser atender as expectativas externas, FIQUE COM VOCÊ! Nada é mais gratificante para um ser humano, que ser amado e respeitado do jeito que ele é: COM SUA LUZ E COM SUA SOMBRA!


Vera Godoy



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Recebemos recentemente esse textinho (de poucas linhas, mas de significado denso) de nossa querida companheira Irla, a quem particularmente chamo, devido a seus atributos almáticos (adoro essa palavra; by OTM), de Senhorita Linda.

Ainda não sei se o que lhe chamou a atenção nele foi a possibilidade de inseri-lo no âmbito fraternal ou amoroso (ou noutro ainda que só ela conhece...), mas de toda sorte, nos faz pensar e repensar sobre todas as nossas relações.

E....

Como estamos em plena comemoração pelos vários gloriosos anos de sobrevivência, vivência e (por que não) existência de nossas amadas Isabella e Irla, convido-os, todos, a repensarem sobre seus relacionamentos, a questionarem-se se estão barganhando, trocando ou compartilhando, com base naquilo que filosofarem e concluírem como melhor escolha!


Aproveito a oportunidade para homenagear não apenas as pequenas Bella e Linda, como também Anna, Lory e Pati, tão presentes e atuantes nessa nossa (minha) mudança interior, sempre linear embora passemos por nós (mesmas), milimetricamente colocados por Deus naquele exato trecho.


Parabens, Irla e Bella, pelas conquistas.... e...

parabens a nós, por sermos merecedoras dessas amigas que compartilham de suas vidas, aceitando como bastante, as nossas.

Beijos floridos, perfumados da mais formosa cor já criada por Deus.

Frô.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O ovo e a galinha por Claire Williams



A escolha de Claire Williams, especialista em literatura luso-brasileira da Universidade de Oxford, foi O ovo e a galinha, conto apresentando no I Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, Colômbia, em viagem realizada por Clarice Lispector com a amiga Olga Borelli. No dia de sua apresentação sente-se indisposta e pede a alguém que leia o conto, não apresentando a fala sobre a magia que havia preparado para a introdução da leitura.

CONTO: O ovo e a galinha
DO LIVRO: A LEGIÃO ESTRAGEIRA
APRESENTAÇÃO: Claire Williams

ESCORREGADIÇO, LÍQUIDO, VISCOSO ... Este conto se acomoda à forma da mente de quem o lê. O enredo é deliciosamente mínimo: “De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo [...] E me faz sorrir no meu mistério. “A mera vista desse ovo faz estalar na cabeça da narradora milhões de ovos-ideias e ovos-imagens que disparam em mil direções. É um puzzle de pedacinhos de casca de ovo. Tem múltiplas dimensões: terror, humor, romance, tragédia, ficção científica, geometria, filosofia, suspense, espionagem, história, gastronomia, anatomia, viagens no tempo e no espaço, genealogia, física, absurdeza, lógica, fórmulas matemáticas, comédia infantil ... tudo... e nada. É um conto em que cada leitor encontrará uma frase, pelo menos uma, que o toca, que o faz ponderar. É um conto em que se descobre algo novo em cada leitura, e em que se perde. Nunca o entendo, mas não e propriamente para entender. Se lê com os sentidos, mas não tem um sentido propriamente dito. A própria Clarice levou este conto para um Congresso de Bruxaria na Colômbia em 1975 para representar a obra dela e confessou aos congressistas: “É misterioso até para mim”. De um ponto de vista pessoal, o primeiro artigo de crítica literária que eu consegui publicar tratou deste conto e noções de maternidade e filiação. Marcou, assim, a eclosão da minha carreira. A palavra "galinha” aparece apenas 53 vezes e a palavra “ovo” 164 vezes, em quase todas as frases, cada “o” uma forma ovóide, dominando o texto. Não nos esclarece sobre a velha questão de quem chegou primeiro, mas acabamos sabendo, sem dúvida, quem desata mais atenção e inspiração.

Postado por Irla

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um poema..

(Imagem: http://browse.deviantart.com)

Depois de tantas postagens interessantes e uteis na pratica da Srta. Linda,
nao pude deixar de replicar aqui um poema que descobri num blog. O poema, embora a primeira vista não pareça assim tão útil, é o que mais é:
[créditos: daqui pra frente, está tudo exatamente copiado do blog (http://tucazamagna.blogspot.com/2010/06/so-as-tartarugas-filosofam.html)]

Palestra..*

Don Camilo

.Os bichos pensam ou
.parecem pensar
.o que é a mesma coisa.
.As tartarugas
.entre tantos
,são as únicas capazes
.de filosofar.
.
.Caladíssimas
.tristes e incomunicávei
.as tartarugas são duras por fora
.e tenras por dentro
.como seus ancestrais
.os cocos.
.
.Diz a moderna genética
.em seu último avanço:
.Os cocos se atiram na areia
.depois de muita reflexão
.e lentamente se atartarugam.
.
Os humanos se arrastam
como as tartarugas
mas não filosofam
e são opostamente
tenros por fora
e duros por dentro.
.
."Os humanos não descendem
.dos cocos.
.São apenas uma aberração bípede.”
.Declara uma sábia tartaruga
.centenária.
..
¬¬ . ¬¬¬. ¬¬
..
.* .Extraído de Folha de Gelatina, Booklink Publicações, 2004.
.
Don Camilo é o pseudônimo literário do boêmio, músico, mestre em filosofia, professor de matemática e engenheiro mecânico Camilo Attie. Paulista a contragosto, morou muito anos no Café Lamas, o mais tradicional reduto boêmio do Rio de Janeiro. Atualmente, esconde-se pelas cercanias praianas de Florianópolis, conforme registram os sismógrafos, astrolábios e bafômetros.
Postado por Gabriella

O crime do professor de matemática por Carlos Mendes de Sousa

No período de férias demos uma pausa na sequência de publicações acerca do livro Clarice na Cabeceira, da Editora Rocco.

Pois bem, estamos de volta, e dando andamento a nossa proposta inicial, trazemos a exposição de
Carlos Mendes Sousa, professor de literatura brasileira na Universidade do Minho, um dos principais nomes da mais nova geração da crítica literária portuguesa, sobretudo no âmbito da
poesia contemporânea. É autor de um livro de referência sobre Eugênio de Andrade (1992), organizou, com Eunice Ribeiro, uma Antologia da Poesia Experimental Portuguesa (2005) publicou ensaios fundamentais sobre Cesário Verde, Jorge de Sousa Braga, Fiama Hasse Pais Brandão, Luís Miguel Nava ou Eduardo Lourenço, muitos deles publicados na revista Relâmpago, de que é um dos directores. Na literatura brasileira dedicou-se por longo tempo a Clarice Lispector, daí tendo resultado uma obra maior na bibliografia sobre a autora, Clarice Lispector. Figura da Escrita (2000), obra com a qual conquistou o Grande Prêmio de Ensaio da APE. Para o Curso Breve de Literatura Brasileira, coleção dirigida por Abel Barros Baptista nos Livros Cotovia, posfaciou os volumes Laços de Família, de Clarice Lispector, e A Educação pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto.


CONTO: O crime do professor de matemática
DO LIVRO: LAÇOS DE FAMÍLIA
APRESENTAÇÃO: Carlos Mendes de Sousa
“Mas se fosse o outro, o verdadeiro cão, enterrá-lo-ia na verdade onde ele
próprio gostaria de ser sepultado se estivesse morto: no centro mesmo da
chapada, a encarar de olhos vazios o sol”

OS DOIS ANOS QUE ANTECEDERAM a minha entrada na Universidade, como estudante de um curso de Letras, foram para mim os tempos de leitura mais intensa e mais caótica de que tenho memória. Nesses anos, dirigia-me quase invariavelmente todas as tardes até um antigo edifício do século XVI e subia a uma sala, donde se podiam entrever os claustros manuelinos de um mosteiro, lugar especialmente inspirador para leituras silenciosas. Era aí, junto à igreja de Santa Cruz, em Coimbra, que na época funcionava a Biblioteca Municipal: era aí que eu permanecia tardes inteiras, imerso num mundo de jornais, revistas e livros. Depois ia para casa carregado de empréstimos de ficção e de poesia.



Contudo, não foi nesse tempo de intermináveis leituras desordenadas que me vieram ter às mãos as obras de Clarice Lispector. Mas foi quase logo a seguir. Descobri Clarice quando já freqüentava Faculdade de Letras de Coimbra, ainda que não tivesse estudado a sua obra na disciplina de Literatura Brasileira ou em qualquer outra cadeira. Foi no meu segundo ano da licenciatura, precisamente há trinta anos, que se deu a descoberta, na biblioteca do Instituto de Estudo Brasileiros. Este já era um tempo de leituras dirigidas, e andava eu a fazer pesquisas sobre Banguê, de José Lins do Rego, quando deparei com o nome Lispector nas estantes. Dois anos após a morte Clarice era ainda muito pouco conhecida em Portugal. Atraído pelo nome da escritora e pelo título do livro, requisitei A maçã no escuro. Que obra extraordinária! Tão diferente e difícil e desafiadora. Veio-me, então, de imediato, o desejo de ler tudo o que a autora escrevera.



Não consigo precisar por que ordem fui devorando os livros de Clarice, mas sei que entre os primeiros que li, numa iniciática fase de deslumbramento, se encontrava justamente Laços de Família, um dos mais belos volumes de contos da língua portuguesa.



Nas suas narrativas de longo fôlego é muito marcante a tensão entre a irrupção do fragmentário e os propósitos arquitetônicos de fechamento. Em A maçã no escuro encontramos largos painéis narrativos que delineiam quadros, como se tratasse de micronarrativas independentes. Nos textos breves, em concreto nos contos de Laços de Família, deparamos com um apuradíssimo equilíbrio de construção, mas também aqui, embora menos perceptíveis, ocorrem as mesmas tensões de toda a escrita clariciana, subsumidas na oscilação dialética entre o pendor formalizante, de que a estrutura de cada texto bem dá conta, e o desconcerto do imprevisível. Sob o traço polido da escrita, irrompem em todos os contos deste volume o sobressalto, a crispação, o assombro. A descida às galerias da alma ocorre nas mais vulgares situações do dia a dia. A existência turbulenta e selvagem, os purgatórios da paixão terreal, toda a dor e júbilo de ser e existir são interceptados no mínimo traço, no menor gesto: uma veia ou uma ruga anunciada no rosto intocado, um enterro ritualizado de um cão substituto, no conto que aqui apresento.



Os seres são confrontados consigo mesmo no meio de circunstâncias tão insignificantes, que as conseqüências, por contraste, revelam um lugar espantoso: a boca de um cego (“Amor”), boca escura a abrir e a fechar, avoluma-se e devém imagem obsessiva e perturbante; e esse cão desconhecido de “O crime do professor de matemática” torna-se, no enterro, o símbolo da própria irresolução agigantada – “algo realmente impune e para sempre”. Mansa e obscuramente ronda a ameaça: a todo o momento pode chegar a “crise”. Contudo, o perigo de dissolução a que se vêem expostas as personagens claricianas é, paradoxalmente, a mais funda energia desses seres. E não há apaziguamento possível porque não mais poderá segurar a vida, mesmo no interior das células protetoras do núcleo familiar. A este respeito é bem expressivo o desfecho dado ao professor de matemática: “E como se não bastasse ainda, começou a descer as escarpas em direção ao seio da sua família”.



Quando li este conto pensei logo no romance A maçã no escuro. Naturalmente que o mais imediato ponto de contato entre os dois textos decorre Fo fato de os protagonistas serem homens, um estatístico e um professor de matemática, isto num universo ficcional marcado pela predominância das personagens femininas. Muito mais haveria para dizer sobre aquilo que há de comum entre os textos e que não cabe nesta breve nota. Lembro apenas o significado simbólico do percurso de Martim em A maçã no escuro. A sua caminhada, feita de avanços e recuos, poderá ser perspectivada como ato penitencial pelo “crime” cometido. No final do percurso veremos o anti-herói que nasce das provas, no meio do que falha, do que é incompletude, tropeço. Afinal, não houve crime. Tudo é questionamento nesse processo em que o homem se reconstrói a partir da redescoberta da linguagem. No início de “O crime do professor de matemática”, o trajeto do homem suscita igualmente interpretações simbólicas. Antes de mais, o afastamento em relação à comunidade e a subida até ao ponto mais elevado da colina. Depois, o relevo concedido ao olhar e aos modos de ver, complementados pelo motivo da miopia (recorde-se o gesto repetido de pôr e tirar os óculos). Anuncia-se aqui uma operação que, em tudo, aponta para as conseqüências de uma visão de profundidade. O conto revela um dos eixos nucleares da obra de Clarice – a relação entre o humano e o animal – e confronta-nos com uma das mais violentas percepções subterrâneas deste universo literário: o território da culpa.



Estamos perante um texto que, envolvendo o maior disfarce, a partir da recorrente figura clariciana do professor, talvez seja um dos mais autobiográficos contos de Laços de Família. Mas como sempre acontece na obra da autora, essa dimensão é admiravelmente transcendida. Em 1946, Clarice publicara num jornal brasileiro um conto intitulado “O crime” (Letras e Artes, 25 de agosto). É a própria Clarice que associa o texto a um episódio de ordem biográfica: o abandono de um cão (Dilermando), quando, nesse ano de 1946, se muda de Nápoles para Berna. Disso mesmo deu conta nas cartas que escreveu às irmãs. A tentativa de recuperação da perda manifesta-se obstinadamente pela via literária: “Anos depois entendi que o conto simplesmente não fora escrito. Então escrevi-o. Permanece o entanto a impressão de que continua não escrito”. No final dos anos 1950, reescreve o conto, expandindo-o. A “impressão” a que a autora alude reenvia claramente para a culpa não resolvida, motor que ativará a compulsão em torno da escrita sobre o animal. Nos últimos tempos, outro cachorro entrará na vida de Clarice. Mas Ulisses como que entra pela porta da frente para tornar-se quase só linguagem (veremos essa manifestação em Um sopro de vida). O cão napolitano precisou de um duplo; e se o conto pode ser lido como um réquiem, também podemos lê-lo como uma das mais profundas reflexões sobre a questão da identidade.

Desde esse longínquo dia de 1979 em que casualmente me veio ter às mãos A maçã no escuro, que, de um modo ou de outro, não deixei de ter Clarice na cabeceira. Ao cabo de muitos anos, nunca me cansei de ler Clarice Lispector. E posso dizer que a sua obra continua a solicitar-me mais do que um mero impulso de revisitação. Ela continua a representar o próprio sentido inaugural da leitura. Isto é, leio sempre os seus textos como se os lesse pela primeira vez.

sábado, 3 de julho de 2010

Concurso de Contos - 1º Prêmio Uberaba de Literatura

O site Na Ponta dos Lápis traz sempre novidades sobre concursos literários, e na última terça-feira, 29 de junho, divulgou o Concurso de Contos - 1º Prêmio Uberaba de Literatura. Concurso que pretende dar prêmios de R$ 1.500; R$ 1.000 e R$ 800. As inscrições são gratuítas, o que torna tudo ainda mais acessível.

Agora só falta selecionar um de seus contos, ler o regulamento e se inscrever. Depois disto, é só torcer para ser um dos premiados!

I Prêmio Uberaba de Literatura

Após a decadência da exploração do ouro no Povoado de Desemboque (município de Sacramento - MG), no século XIX, o Major Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira e sua bandeira fixaram-se nas margens do córrego das Lages. O lugar oferecia condições favoráveis ao cultivo agrícola e à criação de gado. Aos poucos, fazendeiros, comerciantes, pequenos agricultores e outros foram atraídos por essas condições. Em 1820, Dom João VI elevou o vilarejo à condição de Freguesia e, desde então, Uberaba não parou de crescer, tornando-se importante centro comercial e cultural, reconhecido internacionalmente. O município, que se localiza na microrregião do Triângulo Mineiro e – num raio de 500 km – está equidistante de importantes capitais do país, atualmente conta com cerca de 399.000 habitantes.

O I Prêmio Uberaba de Literatura é um dos eventos que homenageiam a cidade pelos seus 190 anos de elevação à Freguesia.

1 – O CONCURSO:

1.1 – é promovido pela Fundação Cultural de Uberaba, com apoio do Arquivo Público, e visa a divulgação de novos talentos literários, o incentivo à leitura e à escrita, o estímulo ao escritor novato ou experiente e a manutenção da tradição literária;

1.2 - é aberto a qualquer brasileiro, maior de 21 anos, residente em qualquer estado do Brasil ou fora do país;

1.3 – tema: livre

2 – INSCRIÇÕES:

2.1 - cada participante poderá concorrer com apenas 1 (um) trabalho do gênero conto;

2.2 – o texto inscrito deve ser:

- inédito, isto é, não pode ter sido objeto de qualquer tipo de veiculação ou publicação antes da inscrição e até a divulgação do resultado e entrega dos prêmios;

- escrito em língua portuguesa e entregue devidamente revisado, de acordo com a norma culta;

- digitado em folha A4, corpo 12, fonte Arial, espaço 1,5, e conter até 45 linhas por folha, com – no máximo – 4 folhas, apenas frente;

- identificado apenas com o título e o PSEUDÔNIMO do autor, gravado em CD e impresso em 3 (três) vias;

2.3 – as inscrições para o concurso são gratuitas e só poderão ser feitas via Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, no período 29 de junho a 30 de agosto de 2010, valendo o carimbo da postagem como comprovante da data de inscrição;

2.4 – A Fundação Cultural de Uberaba não fará qualquer espécie de ressarcimento relacionado aos gastos com a postagem;

2.4 – para se inscrever, insira as 3 (três) vias do texto impressas e o mesmo texto gravado no CD em um envelope tamanho grande, identificado – em seu exterior – com o nome do texto e o pseudônimo do autor. Dentro desse envelope grande, junto às cópias e ao CD, um envelope menor, lacrado, em cujo interior deverão constar as seguintes informações: nome completo, endereço residencial completo (rua, bairro, cidade, cep), número de RG, telefone, e-mail, título da obra, pseudônimo e uma pequena biografia do autor. O envelope grande deve ser enviado ao:

ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA – I PRÊMIO UBERABA DE LITERATURA
Rua Onofre da Cunha Rezende, 78
Bairro São Benedito
CEP: 380120 -130

2.5 – o envio de mais de um conto implicará na desclassificação do participante;

2.6 - não serão permitidos retificação de autoria, alterações, acréscimos e revisões no conteúdo da obra depois de efetuada a inscrição;

3 – SELEÇÃO DOS TEXTOS PREMIADOS:

3.1 – os textos inscritos neste concurso serão analisados por uma Comissão Julgadora composta por 3 (três) pessoas de reputação ilibada e notória competência na matéria;

3.2 – as decisões das Comissões são soberanas, não cabendo contra elas quaisquer recursos;

3.3 – poderá a Comissão Julgadora deixar de premiar, nos três respectivos lugares, caso julgue que nenhum dos contos faz jus ao prêmio.

4 – PREMIAÇÃO:

4.1 - serão conferidos os seguintes prêmios:
1º lugar = R$1500,00 e troféu
2º lugar = R$1000,00 e troféu
3º lugar = R$800,00 e troféu

4.2 – do 4º ao 10º lugar, os autores receberão Menção Honrosa;

4.3 – a data e o local da premiação serão informados na mesma data de divulgação do resultado e os premiados deverão comparecer à solenidade. Em caso de impedimento, deverão enviar representante munido de procuração com firma reconhecida;

4.4 – o prêmio será pago em cheque nominal;

5 – RESULTADOS:

5.1 – os resultados serão divulgados a partir de 30 de setembro, no blog www.arquivopublicouberaba.blogspot.com, na página
www.uberaba.mg.gov.br/fundacaocultural e no jornal Porta-Voz;

6 – DISPOSIÇÕES FINAIS:

6.1 – os premiados concordam e permitem a divulgação de seu nome e imagem em quaisquer situações relacionadas a este concurso e autorizam a publicação dos textos inscritos, em qualquer modalidade de mídia, por tempo indeterminado, sem nenhum ônus para a Fundação Cultural de Uberaba;

6.2 – a inscrição do conto para participar do processo de seleção representa a concordância, por parte do autor, com todos os itens deste regulamento, sem nenhuma ressalva;

6.3 – todo o material enviado para ser submetido à seleção será inutilizado, ao final do concurso, e – em hipótese alguma – haverá devolução de trabalhos a seus autores;

6.4 – se duas ou mais pessoas enviarem a mesma obra ou obras que pareçam idênticas ou aquelas cujas autorias suscitem discussão ou controvérsia, ocorrerá a exclusão das referidas obras do processo de julgamento;

6.5 - os textos enviados pelos concorrentes, obrigatoriamente, não poderão ter conteúdo que: (a) possa causar danos a terceiros, seja por meio de difamação, injúria ou calúnia, danos materiais e/ou danos morais; (b) seja obsceno e/ou pornográfico; (c) constitua em ofensa à liberdade de crença e às religiões; (d) contenha dado ou informação racista ou discriminatória; (e) tenha intenção de divulgar produto ou serviço ou qualquer finalidade comercial; (f) faça propaganda eleitoral ou divulgue opinião favorável ou contra partido ou candidato;

6.6 – É vedada a participação de:

(a) membros da Comissão Julgadora do Concurso, bem como seus familiares (pais, filhos, irmãos e esposos/as ou aqueles que residem no mesmo domicílio);

(b) funcionários ou pessoas que prestam serviço à Fundação Cultural de Uberaba, seus parentes ou aqueles que residem no mesmo domicílio.

6.7 – casos omissos, não previstos neste regulamento, serão resolvidos pela Fundação Cultural de Uberaba, por meio de equipe designada pelo Presidente.

MAIS INFORMAÇÕES:

Fundação Cultural de Uberaba/ Arquivo Público de Uberaba

Iara Fernandes ou Cíntia Gomide
(34) 3312 4315 - arquivouberaba@yahoo.com.br

Das 8h30 às 17h30, de segunda a sexta-feira

Postado por Irla

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ele me bebeu por Carla Camurati


Esta é Carla de Andrade Camurati cineasta e atriz brasileira que desde 2007 preside a Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Ela participou da seleção de contos que deu origem ao livro Clarice na cabeceira e escolheu:

CONTO: Ele me bebeu
DO LIVRO: A VIA CRUCIS DO CORPO
APRESENTAÇÃO: Carla Camurati

DURANTE ALGUNS ANOS da minha vida, eu e meu querido amigo José Antonio Garcia gostávamos de passar a noite lendo, bebendo e fumando Clarice Lispector, eu um verdadeiro torpor em que às vezes tínhamos acessos de risos e às vezes chorávamos muito ... Ficávamos ali, consternados com as histórias das pessoas que em voz alta líamos um para o outro horas a fio. Parecíamos conhecer todos aqueles personagens. Ler Clarice Lispector é uma das viagens mais incríveis dentro da Alma humana. Podemos ver todas as sutilezas que na realidade protagonizam as nossas vidas: as inseguranças, os defeitos, as vergonhas e as alegrias. Todas ali expostas, mas expostas com tanto afeto e de forma tão contundente que em mim esse olhar que ela tem sobre as pessoas e o mundo mudou a minha maneira de perceber o outro. Desenvolveu em mim, com certeza, um olhar mais agudo e ao mesmo tempo mais generoso ... que muito me ajuda a viver nesse mundo.

Foram momentos deliciosos da minha vida, muito emocionantes! Escrevemos três roteiros juntos.

Um contava a história de Clarice, na qual eu faria uma das fases da sua vida. O filme começava com Clarice menina em Recife e ia até o final de seus dias.

Os outros dois eram adaptações desse saboroso livro A via crucis do corpo. Hum, que descoberta foi esse livro nas nossas noites! Tivemos uma febre por ele ... O primeiro roteiro que realizamos foi “O corpo”. José Antonio fez um filme muito especial, muito premiado e, infelizmente para nós, muito mal lançado. O elenco era? Antonio Fagundes, Marieta Severo e Claudia Gimenez. Eu fazia uma participação especial.

O outro é o meu conto escolhido, infelizmente não tenho mais o José Antonio ao meu lado para filmarmos juntos esse roteiro. “Ele me bebeu” é uma das mais interessantes tramas de amor contemporâneas que eu já li.

É uma história de amizade, competitividade, identidade, vaidade e renascimento. Tudo sem perder a delicadeza, como só Clarice sabia fazer. Aproveitem, agora, essa surpreendente história de Aurélia Nascimento e Serjoca passada nas noites curvas de Copacabana...

Postado por Irla

sábado, 26 de junho de 2010

Perdoando Deus por Beth Goulart

Dentre tantas figuras representativas do cenário das artes não poderiam deixar de fora, da coletânea de contos que compôem o livro Clarice na cabeceria, aquela que veio a interpretar Clarice Lispector na peça Simplesmente EU, Clarice Lispector,
Beth Xavier Miessa Goulart popularmente conhecida como Beth Goulart, atriz brasileira, filha dos também atores Paulo Goulart e Nicette Bruno.

CONTO: Perdoando Deus
DO LIVRO: FELICIDADE CLANDESTINA
APRESENTAÇÃO: Beth Goulart

QUEM ANDANDO PELO JARDIM BOTÂNICO, ou pela Lagoa Rodrigo de Freitas ou ainda assistindo a um pôr do sol no Arpoador não se sentiu parte de alguma coisa maior, uma nova dimensão, parte de uma teia invisível e permanente que liga todas as coisas numa relação de interdependência de vida? Esta sensação é muito forte e abre em nossa consciência um espaço para invisível, o inominável, o absoluto ou ainda ao que chamamos de Deus. Esta força estranha e atraente que ora nos abraça ora nos repreende de acordo com a lei de nossas ações é o grande mistério do mundo.

Que relação podemos ter de intimidade e respeito, reverência ou medo diante do infinito e da grandeza, nós simples humanos, mortais e pecadores. Este conto nos leva a uma viagem pelo raciocínio de uma mulher que tocada pela beleza da vida se sente mãe de Deus, da Terra, das coisas e do mundo. É a intimidade perturbadora de que o micro está no macro e vice-versa.

Em sua prepotente eloqüência e liberdade, não percebe a presença reveladora de um rato morto em seu caminho, símbolo do que é pequeno e suo e de seus limites. Quantas vezes as lições da vida estão disfarçadas de pequenos acidentes cotidianos, pequenos tapas que levamos para acordar a consciência. Sua revolta se inicia pelo terror, seguido da ira com sentimentos de vingança infantil pela rejeição de Deus, ou pela simples e corriqueira expressão – Por que eu?

Aos poucos, ao se deparar com a conexão dos dois fatos e seu nexo, vê-se forçada a entender que amar é muito mais que aceitar a compreensão, é aceitar a incompreensão, que devemos amar ao que se é e não ao que gostaríamos que fosse, e que somos todos iguais, dependendo do ponto de vista. Para se amar a Deus é necessário amar todas as coisas vivas, o planeta, toda a humanidade, amar o bom e o belo, mas também amar o erro e a dor. A totalidade dos contrários, o caos, o tão, a música e o silêncio, entender e perdoar nosso limite e nosso tamanho para poder aumentá-lo. Não inventar Deus mas sentir Deus.

Postado por Irla

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A procura de uma dignidade por Benjamin Moser


Benjamin Moser, norte-americano, nascido em Houston e formado em História. Conheceu a obra de Clarice por acaso, na universidade, quando escolheu estudar português após fracassar no aprendizado de mandarim (chinês). Selecionou, no livro Clarice na cabeceira, dentre os muitos contos de Clarice, o seguinte:

CONTO: A Procura de uma dignidade
DO LIVRO: LAÇOS DE FAMÍLIA
APRESENTAÇÃO: Benjamin Moser

UMA JORNALISTA TELEFORNOU para desmarcar uma entrevista com Clarice Lispector, semanas antes de sua morte. Clarice aconselhou à jornalista, Norma Couri, que não desmarcasse, talvez sentindo que não haveria outra ocasião. Ficaram um tempo falando quando Clarice disse: “Eu ando sempre na contramão.” Norma demorou para entender que Clarice não estava falando metaforicamente: costumava andar literalmente de encontro ao fluxo dos transeuntes nas ruas do Rio de Janeiro.

“Meu drama: é que sou livre”, escreveu. Mas sentindo, ao lê-la, que a liberdade sempre foi, para ela, uma conquista árdua, um bem que nunca chegou a possuir seguramente, uma luta travada contra uma multidão, uma andança em contramão. A procura da liberdade contra um mundo todo feito para negá-la é um dos grandes temas de Clarice Lispector, desde Virgínia, de O Lustre, cuja liberdade é uma cara e frágil conquista: “Tomou um guardanapo, um pãozinho redondo ... com um esforço extraordinário, quebrando em si mesma uma resistência estupefata, desviando o destino, jogou-os pela janela- e assim ela conservara o poder”.

Como as personagens nas primeiras obras de Clarice Lispector, Virgínia é uma jovem; nas obras que se seguiram a O Lustre, as rebeldes adolescentes amadurecem, como sua autora, e se transformam em mães e donas de casa, até que, nos últimos anos de sua vida, as protagonistas de Clarice viram viúvas, avós: senhoras, como a sra. Jorge B. Xavier, a heroína desse conto, que nem um nome próprio tem. Consumada por um desejo patético por Roberto Carlos, fisicamente presa nas entranhas do estádio do Maracanã, não está mais à procura de uma liberdade: agora, ela só quer uma mais modesta”dignidade”. O tempo encurtando, com uma urgência mais palpitante ainda, ela só pede conservar o que resta de seu poder.

É nessa dramatização da crise de uma pessoa que bem sabe que a morte está se aproximando e que procura, por uma última vez que seja, andar na contramão, que vemos o poder sempre espantoso de Clarice Lispector, de nos ajudar a sentir “até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador”.

Postado por Irla

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A Fuga por Artur Xexéo

Dando sequência ao livro Clarice na cabeceira, apresentamos:

CONTO: A Fuga
DO LIVRO: A BELA E A FERA
APRESENTAÇÃO: Artur Xexéo


Artur Xexéo é jornalista. Colunista e editor do "Segundo Caderno" do veículo O Globo, e introduz seu conto selecionado assim:

QUANDO ESCREVEU “A FUGA”, Clarice tinha seus vinte e poucos anos e estava publicando seus primeiros contos. Ainda não tinha lançado Perto do coração selvagem ainda não era uma escritora famosa. Ainda não era a Clarice que viria a ser. É nesses contos, e especialmente em “A fuga”, que aparece a mulher que seria seu personagem constante por muito tempo e que revela as inquietações de Clarice àquela época. É uma mulher que tem medo, que está decidida a tomar um novo rumo, mas que ainda não sabe bem qual é. Ela quer se transformar, mas não sabe em quê. É uma mulher cansada que toma uma resolução. No caso do conto, a resolução não é das mais sofisticadas: ela sai de casa e não pretende voltar. Aproveita um dia de chuva com o que acredita ser a liberdade. É uma mulher confusa, pronta para novas descobertas. Ela acredita que o mundo vai mudar logo após virar uma esquina. Vivendo um casamento sem graça há 12 anos, ela agora sente-se independente só porque tomou a decisão de sair de casa. A certa altura, ela mesma se define: “Eu era uma mulher casada e agora sou uma mulher”. Vinte e pouco parágrafos depois de anunciar sua suposta liberdade, “a mulher com medo” de Clarice retorna à casa. Deixa de ser uma mulher. Volta a ser uma mulher casada.

A protagonista de “A fuga” tornou-se um lugar-comum nos primeiros contos de Clarice Lispector. É a mulher insatisfeita que, mesmo que opte pela independência, pela liberdade, não sabe muito bem o que fazer com elas e acaba retornando a rotina de sempre. Em às vezes, a mesma “mulher cansada” aparece como uma solteirona solitária. Ou como uma velha que se arrepende de não ter escolhido determinado caminho muitos anos atrás. A mulher das primeiras experiências de Clarice com a ficção está sempre diante da possibilidade de um novo caminho. Mas não tem coragem de segui-lo. Ou percebe que as mudanças talvez só aconteçam mesmo em caminhos internos. Com um passado frustrado e um presente medíocre, ela perde-se nos labirintos do futuro. E caminha, implacavelmente, para um final nada feliz.

Relido hoje, é impressionante como “A fuga” já anunciava a mulher- e escritora – que Clarice se tornaria e, principalmente, como ele desenhava com previsão a insatisfação da mulher com o papel que a sociedade da primeira metade do século lhe reservava. Essa mulher só viria à tona quase duas décadas depois. Mas já existe nos primeiros contos d Clarice, aqueles escritos no comecinho dos anos 1940, certamente maturados no fim dos anos 1930. A mulher de Clarice Lispector estava sempre imaginando que hoje, finalmente hoje, alguma coisa diferente iria lhe acontecer. Mas, ao fim de cada um dos contos – às vezes, a solução para “a mulher com medo” era o suicídio -, descobria-se que não bastava querer, esperar, imaginar. “A mulher cansada” de Clarice tinha que agir.

Postado por Irla

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Amor por Affonso Romano de Sant´Anna


Affonso Romano de Sant'Anna, escritor brasileiro foi cronista no Jornal do Brasil (1984-1988) e do jornal O Globo até 2005. Atualmente escreve para os jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense.

Affonso escolheu, para comentar, no livro Clarice na cabeceira:

CONTO: Amor
DO LIVRO: LAÇOS DE FAMÍLIA
APRESENTAÇÃO: Affonso Romano de Sant´Anna

ESTE CONTO “AMOR” (Laços de Família) me parece exemplar para o estudo de um dos temas mais fortes de Clarice – a epifania. Tratei disto primeiramente em Análise estrutural de romances brasileiros (1974) e mais amplamente no ensaio “ O ritual epifânico do texto” (1988), que acompanha o volume A paixão segundo G.H. editado pela UNESCO/UFSC e que republiquei em Que fazer de Ezra Pound (Imago).

A trajetória da personagem Ana – simples dona de casa – que certo dia sai da “raiz firme das coisas” e penetra “a hora perigosa da tarde” experimentando uma revelação/crise/náusea que a expulsa da “cegueira” cotidiana, é o movimento que vai se repetir em outros contos e nos romances de Clarice. Seus personagens estão sempre sendo submetidos a um conhecimento súbito da “verdade” em meio à banalidade da vida. Há um “rito de passagem”, uma “iniciação” perigosa e sublime, que arrebata não só seus personagens, mas também o leitor e a própria narradora.

E desse arrebatamento que fala toda a obra de Clarice. E a melhor literatura é isso: é a fratura, o corte, o impacto dentro da trivialidade da vida. Clarice dedicou sua vida a revelar este espanto. E é este espanto que deixa os seus leitores igualmente atordoados.

Postado por Irla

terça-feira, 15 de junho de 2010

Menino a bico de pena por Adriana Lisboa

Dando continuidade aos post´s, acerca do livro Clarice na cabeceira, da Editora Rocco, escolhemos o:

CONTO: Menino a bico de pena
DO LIVRO: FELICIDADE CLANDESTINA
APRESENTAÇÃO: Adriana Lisboa

Adriana Lisboa é uma escritora brasileira, autora de nove livros de ficção e integrou várias antologias de contos no Brasil e no exterior.

COMO CONHECER JAMAIS O MENINO. Lá está ele, um ponto no infinito, mas inteiramente atual, feito somente de um agora que já é outro agora. No conto “Menino a bico de pena” Clarice desenha. Não pode ser com carvão. É preciso desenhar o menino com o traço mais fino de todos. Com o traço que, como o próprio menino, seja ainda só atualidade e infinitude. Um traço preciso como a palavra de um mestre zen, que nunca sobra, que nunca falta. E espaçoso em seus limites, ao mesmo tempo, porque só aquilo que sabe ser inteiramente agora pode passear com desenvoltura sobre a vertigem do infinito: esse menino, a bico de pena, antes da domesticação. Antes de virar humano e rombudo, presa do tempo adulto cotidiano. Antes de abrir mão, de uma vez por todas, da sua infinitude, da sua genuína loucura, cooperando - assim como fizeram os outros homens antes dele, e o Deus desses homens também. Por enquanto, o mundo fora do menino é aquilo que está dentro dele: o que ele enxerga (e só existe por isso: porque ele enxerga), o que se firma e o que cambaleia (quando ele se move, é o chão que se move). E o menino, ainda em seu retrato a bico de pena, antes de qualquer destino trágico e de crescer em médico ou carpinteiro, é aquele que mantém a curiosidade diante da fralda molhada ou do pingo de baba: porque o mundo é novo e se aquilata em maravilhas por minuto. Mesmo que ele já saiba que não morrer é mãe, e que é preciso saber chorar por isso.

Postado por Irla

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ruído de passos por Adriana Falcão

Iniciando a sequencia de posts, de apresentações dos contos de Clarice Lispector, do livro Clarice na cabeceira ,trago comentários de Adriana Falcãocom sobre seu conto selecionado.



Para os que não conhecem ela é é uma roteirista e escritora brasileira. Atualmente, roteirista da TV Globo, escreve para séries como Comédias da Vida Privada e A Grande Família, além de roteiros para cinema e a série Mulher.

CONTO: Ruído de passos
DO LIVRO: A VIA CRUCIS DO CORPO
APRESENTAÇÃO: Adriana Falcão

“Sabia, gosto de você chegar assim, arrancando páginas dentro de mim desde o primeiro dia.”
Chico Buarque

GOSTO QUANDO CLARICE chega assim e me dá uma rasteira.

Aconteceu com “Ruídos de passos”.

Comecei a me apaixonar por dona Cândida Raposo nas primeiras linhas do conto.

Quem não se apaixonaria por uma velhinha de 81 anos que tem vertigem de viver?

“A altitude”, “o verde das árvores”, “a chuva”, “arrepios com Liszt”, “perfume de rosa”, e vamos compreendendo a vertigem de dona Cândida. Até que ela nos surpreende, quando vai ao consultório médico se queixar que “ainda tem a coisa”. Além de “a coisa”, dona Cândida também se refere ao seu desejo de prazer como “o inferno”. O diagnóstico do médico é preciso: “é a vida”.

Quando achamos que era isso, que idéia corajosa, um conto sobre uma velhinha aristocrática que ainda sente volúpia sexual, e decide, sem mais alternativas, resolver seu problema sozinha, claro que Clarice vai além.

A filha que espera no carro, lá fora, o filho morto na guerra e “a intolerável dor no coração de sobreviver a um ser adorado”, e lá vou eu me apaixonando cada vez mais por essa dona Cândida, gente, bicho, ser vivo. E não é que ela resolve se satisfazer sozinha, todas as noites, “sempre tristes”, “esperando a bênção da morte?”

O ruído de passos de seu marido, Antenor Raposo, me assusta como um filme de suspense.

E eu sinto a vida como um filme de suspense, e adoro e odeio minhas vertigens.

Postado por Irla