sábado, 26 de junho de 2010

Perdoando Deus por Beth Goulart

Dentre tantas figuras representativas do cenário das artes não poderiam deixar de fora, da coletânea de contos que compôem o livro Clarice na cabeceria, aquela que veio a interpretar Clarice Lispector na peça Simplesmente EU, Clarice Lispector,
Beth Xavier Miessa Goulart popularmente conhecida como Beth Goulart, atriz brasileira, filha dos também atores Paulo Goulart e Nicette Bruno.

CONTO: Perdoando Deus
DO LIVRO: FELICIDADE CLANDESTINA
APRESENTAÇÃO: Beth Goulart

QUEM ANDANDO PELO JARDIM BOTÂNICO, ou pela Lagoa Rodrigo de Freitas ou ainda assistindo a um pôr do sol no Arpoador não se sentiu parte de alguma coisa maior, uma nova dimensão, parte de uma teia invisível e permanente que liga todas as coisas numa relação de interdependência de vida? Esta sensação é muito forte e abre em nossa consciência um espaço para invisível, o inominável, o absoluto ou ainda ao que chamamos de Deus. Esta força estranha e atraente que ora nos abraça ora nos repreende de acordo com a lei de nossas ações é o grande mistério do mundo.

Que relação podemos ter de intimidade e respeito, reverência ou medo diante do infinito e da grandeza, nós simples humanos, mortais e pecadores. Este conto nos leva a uma viagem pelo raciocínio de uma mulher que tocada pela beleza da vida se sente mãe de Deus, da Terra, das coisas e do mundo. É a intimidade perturbadora de que o micro está no macro e vice-versa.

Em sua prepotente eloqüência e liberdade, não percebe a presença reveladora de um rato morto em seu caminho, símbolo do que é pequeno e suo e de seus limites. Quantas vezes as lições da vida estão disfarçadas de pequenos acidentes cotidianos, pequenos tapas que levamos para acordar a consciência. Sua revolta se inicia pelo terror, seguido da ira com sentimentos de vingança infantil pela rejeição de Deus, ou pela simples e corriqueira expressão – Por que eu?

Aos poucos, ao se deparar com a conexão dos dois fatos e seu nexo, vê-se forçada a entender que amar é muito mais que aceitar a compreensão, é aceitar a incompreensão, que devemos amar ao que se é e não ao que gostaríamos que fosse, e que somos todos iguais, dependendo do ponto de vista. Para se amar a Deus é necessário amar todas as coisas vivas, o planeta, toda a humanidade, amar o bom e o belo, mas também amar o erro e a dor. A totalidade dos contrários, o caos, o tão, a música e o silêncio, entender e perdoar nosso limite e nosso tamanho para poder aumentá-lo. Não inventar Deus mas sentir Deus.

Postado por Irla

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